segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mamíferos que põem ovos

Diferente dos outros mamíferos, os chamados monotremandos põem ovos, que são incubados fora do corpo da fêmea. Além disso, apresentam bicos e pés semelhantes aos do pato e membros anteriores em forma de nadadeiras. O principal representante é o ornitorrinco, animal encontrado principalmente na Austrália.
Os filhotes de ornitorrinco alimentam-se do leite que escorre dos poros dilatados da pele da mãe (as glândulas mamárias não possuem tetas nem mamilos).
A esse grupo de mamíferos primitivos também pertence a equidna, animal que vive na Austrália, Nova Guiné e Tasmânia.











Ornitorrinco.












Equidna.







Fonte: Livro " tudo é ciência" seres vivos (7º ano, antiga 6º série) autor: Daniel Cruz,

domingo, 18 de janeiro de 2009

O que fazer com tanto lixo?

O que fazer com tanto lixo?

Por: Patrícia Blauth*


O destino do lixo é um dos maiores problemas das cidades. Do lixo que chega a ser coletado no Brasil, mais de 75% é despejado em lixões, onde não recebe nenhum tratamento que diminua seu impacto no ambiente. Aí gera poluição do solo, da água subterrânea e do ar, degrada a paisagem e atrai uma população enorme de pessoas excluídas do mercado de trabalho - estima-se que um milhão de pessoas vivam da catação de resíduos nas ruas e nos lixões brasileiros! Na cidade de São Paulo, que não possui lixões "oficiais", mas aterros sanitários, o problema persiste. Considerando a lenta degradação (lenta mesmo!) dos resíduos, o lixo vai ocupando rapidamente todo o espaço disponível. Em pouco tempo não caberá mais lixo nos nossos dois aterros! E a cidade não possui muitas áreas disponíveis onde despejar o lixo gerado - mais de 1 kg por pessoa por dia!

O que fazer, então, com tanto lixo? Se analisarmos atentamente, veremos que é basicamente um conjunto de coisas boas no lugar errado. Nesse sentido, aumentam as iniciativas de separação de resíduos para reciclagem e/ou compostagem, ou seja, alternativas que tratam os resíduos não mais como lixo, mas como matéria-prima passível de recuperação. Programas de coleta seletiva, do poder público e de entidades da sociedade civil, inclusive de cooperativas de catadores (cada vez mais organizadas no país), vêm contribuindo sobremaneira para diminuir o lixo, com benefícios ambientais, sociais, educativos e econômicos.
Reciclar resíduos, porém, é como "limpar o leite derramado", uma tentativa de devolver ao ciclo produtivo os recursos que extraímos do ambiente, muitas vezes de modo excessivo e irracional. Além disso, convém lembrar que a reciclagem envolve processos industriais, que consomem água e energia, e também poluem. Sem contar que muitos materiais descartados não são técnica ou comercialmente recicláveis no país. O que podemos fazer, por exemplo, com o isopor?

Além de pensarmos num fim para o lixo, precisamos considerar, seriamente, seu começo. Isto é: de onde vem tanto lixo? Tudo o que usamos é realmente necessário? Documentos "ambientais", como a Agenda 21, apontam que a diminuição da quantidade de lixo depende da adoção de alguns passos básicos - os três Rs - na seguinte ordem:

1) redução no consumo e no desperdício;
2) reutilização de produtos, e (por último)
3) reciclagem de materiais.

Reduzir o consumo - evitar a produção de lixo - certamente não é fácil na nossa sociedade urbano-industrial, em que o avanço tecnológico, a propaganda e, fundamentalmente, a desagregação das relações familiares e comunitárias contribuem para um estilo de vida fortemente consumista. Mas esse desafio deve ser enfrentado se quisermos uma sociedade efetivamente sustentável, num planeta com recursos preciosos e finitos. Pois, como me disseram uma vez: "reciclar é pedir desculpas à natureza, enquanto reduzir é não ofender em primeiro lugar".

Patrícia Blauth é bióloga e consultora de educação e resíduos sólidos

Fonte: Revista Senac.sp – www.sp.senac.br

Água: o ouro do terceiro milênio

Água: o ouro do terceiro milênio

Embora o Brasil colecione títulos dignos de orgulho - como em várias modalidades
esportivas -, infelizmente ainda temos de engolir alguns outros não tão dignos: o de
ser um dos países que mais desperdiça água no mundo

Pouca gente sabe, mas atualmente 40% do volume de água tratada que é servido à população acaba, literalmente, sendo desperdiçado. O fato de o nosso país ter sido tão abençoado pela natureza não justifica essa “cultura do desperdício”.
O problema é que essa constatação pode ser encarada como mais uma daquelas vergonhas que o brasileiro costuma esconder, só que o caso é realmente grave: a água está se tornando escassa em todo o planeta e se as coisas não começarem a mudar, poderemos assistir à concretização daqueles cenários desolados dos filmes futuristas.
Desde o final do ano de 1997, o governo está tentando atingir companhias de saneamento, empresas e usuários em geral com uma campanha que visa baixar as perdas de água para 25%: trata-se do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água. Pelos cálculos da Secretaria de Política Urbana (SPU), se o programa for bem sucedido, essa redução vai resultar numa economia de 2,6 bilhões de metros cúbicos de água, avaliada em R$ 1,27 bilhão por ano. Nada mau, para um país que precisa acertar suas contas.
O setor rural também apresenta uma performance merecedora de atenção: é o maior usuário do Brasil, correspondendo a cerca de 70% do consumo total de água e, lamentavelmente, é também o maior poluidor. A Secretaria de Recursos Hídricos está montando o Projeto de Conservação e Revitalização de Recursos Hídricos, tendo como alvo o setor rural. Ainda em fase experimental, o projeto prevê a expansão para uma visão de manejo integrado de solo e água. A intenção é desenvolver campanhas educativas e oferecer financiamento para atividades que recuperam e melhorem os mananciais, estimulando os produtores a, por exemplo, recuperar matas ciliares ou cuidar para que os dejetos de suas propriedades não contaminem os mananciais.
No âmbito urbano, além das medidas concretas como verificação e eliminação de vazamentos e ligações clandestinas, alteração das normas de construção de prédios e residências, entre outras, existe também um grande desafio que é a mudança no comportamento da população que, atravessando gerações, vem enraizando cada vez mais a cultura do desperdício.

Sede mundial
Segundo alerta da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado no mês de março, dentro de 25 anos, aproximadamente, um terço da população mundial enfrentará graves desabastecimentos de água, aumentando o perigo de guerras pelos recursos hídricos. A declaração do vice-secretário geral da ONU, Hans van Ginkel, não foi nada animadora: “conflitos por causa de água, guerras civis e internacionais ameaçam tornar-se um fator-chave do panorama mundial no século XXI”.
Ainda de acordo com o relatório da ONU, a escassez de água é agravada pela poluição, pelo uso ineficiente e pelo consumo insustentável dos lençóis subterrâneos através dos poços artesianos. As reservas hídricas também são prejudicadas por sua administração insuficiente e fragmentada, relutância em tratar a água como patrimônio econômico público e pela inadequada preocupação com a saúde e questões ambientais.
Tudo isso pode parecer “coisa de ecologistas apavorados” mas, infelizmente, não é. Embora dois terços da superfície da Terra sejam realmente cobertos por água (formando um volume de 1,5 bilhão de Km3), a verdade é que cerca de 97,5% desse total são constituídos de água salgada. Restam, portanto, 2,5% que ainda incluem os gelos polares.
A ONU está preocupada e com razão: hoje já sabemos que o estoque utilizável de água potável, de 9 mil Km3 ao ano, está próximo do esgotamento. A recomendação é que consumidores e cidadãos participem mais direta e ativamente na administração desse recurso natural.

E no Brasil...
Atualmente muitos países já enfrentam problemas com a escassez de água. Mas o Brasil tem muita água, podem pensar alguns. É o Brasil realmente tem. A Amazônia, por exemplo, é portadora da maior bacia fluvial do mundo. Só que esses “muitos e maiores” são também aplicados às taxas de poluição e desperdício. Só para se ter uma idéia, apenas na região metropolitana de São Paulo, metade da disponibilidade de água está afetada pela existência de lixões sem qualquer tratamento sanitário*. A água contaminada é responsável pela transmissão várias doenças como desinteria e cólera, entre outras.
Em outras regiões do Brasil a história não é muito diferente: metais tóxicos, como o mercúrio usado no garimpo, acumulam-se criminosamente em nossas águas. Para cada 450 gramas de ouro extraídos dos rios da Amazônia, o dobro de mercúrio é despejado na água resultando num cálculo assustador: cerca de 100 toneladas anuais desse metal envenenam a Bacia Amazônica.
No setor rural, lamentavelmente, é onde ocorre a maior taxa de desperdício por conta de métodos de irrigação não racionalizados. A grande quantidade de água utilizada no setor agrícola pode ser sensivelmente reduzida com a implantação de processos de irrigação bem planejados. O setor também contribui para o aumento da poluição, despejando nas águas os restos de pesticidas agrícolas.
E o que fazer? Temos de exigir que a administração do uso da água seja feita com responsabilidade. Além disso, cada um de nós, não importa nossa atividade profissional, somos seres humanos dependentes deste valioso recurso natural. Se em cada momento do nosso dia-a-dia, tivermos em mente que somos responsáveis pela nossa água do futuro, poderemos contribuir para garantir uma límpida e potável reserva.

* Segundo dados preliminares do estudo “Entre Serras e Águas” da Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
Artigo publicado na Revista Tempo Verde (abr/mai-99)

Rose Aielo Blanco é jornalista especializada na área de ecologia,
jardinagem e cultivo de plantas ornamentais.

Água, um recurso estratégico

Água, um recurso estratégico

Por: Décio Luiz Gazzoni*

Retomamos o tema água,(leia também: Água, a próxima vantagem competitiva?) porque ele vai dominar as discussões com intensidade cada vez maior. Vamos relembrar que 80% da superfície da Terra é composta de água. Mas, a maior parte dessa água se encontra no mar, e não está prontamente disponível para os principais usos humanos. Dessalinizá-la ou efetuar outros procedimentos para torna-la apta ao uso ainda é um processo caro, e com tecnologia de pequena escala. O sultão de Brunei pode, mas o "Seo" José das Neves, lá do interior de Grotão da Barra Funda pode?

Água é vida

Não há vida sem água, o seu corpo é composto por dois terços de água. Os alimentos que você ingere foram produzidos com água e contém água; os processos industriais usam água. Água é saneamento, é limpeza, é higiene, é a substância que permeia com maior intensidade e freqüência as atividades humanas. No uso quotidiano - aprendi nas aulas de Engenharia - que um cidadão médio necessita de 200 a 300 litros de água, para atender a todas as suas necessidades. Mas, o uso direto pelo ser humano representa uma das demandas de água doce, e não é a maior: existe a demanda industrial, ou, para ser mais abrangente, a demanda das atividades econômicas da urbe, e a demanda do setor agropecuário. Na área industrial água é base para produção de energia em pequena escala, vapor, refrigeração, lavagem, etc. E também é necessária para produção de energia em larga escala, como as hidroelétricas que, embora não consumam a água, impõem uma série de exigências técnicas e limitações ao seu uso. Por exemplo, o volume d’água necessário para operar uma hidroelétrica limita o volume que pode ser utilizado nos perímetros irrigados.

Água é dinheiro

Não sei quantos vão lembrar desse episódio, porém durante a primeira crise do petróleo, lá nos anos 70 de repente um brasileiro propôs: nós não temos petróleo, estamos pagando o olho da cara para importá-lo dos árabes; eles não têm água, estão pegando os bilhões de dólares do petróleo para construir super-estruturas caras e ineficientes de tratamento de água salgada. Então, porque não aproveitar o petroleiro que volta vazio e vender água para a OPEP? Essa discussão ficou um tempo na imprensa e acabou desaparecendo pela dificuldade de operacionalização, porque esgotou-se em si mesma e porque nos acostumamos com o preço. Mas, o problema está aí e continua: alguns países têm petróleo, ou tem dinheiro, ou tem comida, ou tem alguma coisa de valor econômico, e outros têm água. E água tem valor presente, e terá valor cada vez mais intenso no futuro. Sei que hoje você vai achar ridículo, mas seu filho ainda poderá ser um operador, via Internet, da Chicago Water Trade! Já pensou, água commoditie?

Água é mal distribuída

A distribuição geográfica da água é um dos pontos cruciais e um problema estrutural sério. Ela está onde está e não está onde não está, no entanto é necessária nos dois locais. Quando estive em Israel, na Palestina e na Jordânia, fiquei a pensar com meus botões: por que séculos de guerra por aquele deserto improdutivo, temperatura de 45 graus C no inverno? Filosofia à parte, o fato é que a História não vai mudar e seres humanos continuarão habitando locais inóspitos, sem água. E a necessidade de água será eterna. Para atender a demanda, as alternativas visíveis são: fazer chover onde não chove; ir buscar água no sub-solo, se existir; tornar potável a água do mar e transportá-la onde for necessária; ou buscar água doce onde existir. Como as previsões da ONU são de que, embora declinantes, as taxas de crescimento populacional serão positivas nos primeiros 50 anos do século XXI (população entre 9 e 10 bilhões), a demanda por água crescerá em taxas superiores à demanda de alimentos. Porque, produzir alimentos, requererá ainda mais água. Mesmo na Pátria Amada, morremos afogados na Amazônia e de sede no Nordeste. Projetos para resolver o problema, como a transposição do São Francisco, são polêmicos e custam bilhões de dólares.

Água é benção

Não temos muito que reclamar do "Patrão Velho" lá de riba, que estava de muito bom humor quando criou o Brasil. Ele caprichou na terra, nas florestas, no clima, nas mulheres lindas, e nos deu água, muita água doce. Certo que a maior parte está concentrada lá na Bacia Amazônica, mas vamos entender a extrema sabedoria do Criador: eu sei que povinho que eu estou pondo lá, então vou dar água mais que suficiente para ele viver nas outras regiões, dou uma "castigadinha" no Nordeste, e ponho uma fortuna em água na Amazônia. Porém, com milhões de dificuldades, que é para ser a reserva para o século XXIII, às vésperas da grande revoada da Humanidade para outro Planeta. Mas, o que Ele nos deu de água no restante do país é uma fábula. Vou ficar apenas num exemplo que estudei recentemente: pelas cataratas do Iguaçu passam, a cada segundo, cerca de 11 milhões de litros de água. O suficiente para atender as necessidades diárias de Londres ou Paris a cada 150 seg; Tóquio em 175 seg; Nova Iorque em 200 seg; da cidade do México em 225 seg; São Paulo em 360 seg. Parece espetacular? Então vou lhe responder como aquele meu professor de Zoologia: espere quando estudarmos o burrichó! Porque, pelas máquinas e pelo vertedouro de Itaipu, sobre o Rio Paraná, passa 5 vezes mais que isso. A cada 100 dias jorra água suficiente para atender a necessidade de toda a população mundial!

Água é mal usada

Concluímos que água não falta, até pelo contrário, sobra. Nossos problemas estão na sua distribuição geográfica desuniforme e no mau uso que dela é feito. Nos interessa de perto os maus tratos que aplicamos à água enquanto insumo produtivo para a agricultura. Mas não há como passar ao largo de outras formas de poluição e esgotamento. Segundo a Embrapa, metade dos municípios brasileiros são abastecidos por água retirada de poços. Ou seja, teoricamente água protegida da agressão do Homem. Apenas teoricamente, porque nem lá embaixo a água está protegida. Os franceses estão apavorados com a descoberta de diversos poluentes, oriundos de atividades agrícolas, em águas subterrâneas. Uma das descobertas é a alta concentração de nitritos, indutores de tumores malignos, em concentrações que inviabilizam o uso da água. De onde vieram os nitritos? Ou do uso super-intensivo de adubos nitrogenados altamente solúveis, ou da lixiviação de dejetos da suinocultura. O que está provocando conflitos na monolítica estrutura de cumplicidade no seio da Comunidade Européia, para manutenção dos subsídios agrícolas, porque os subsídios constituem uma peça angular na manutenção do status quo tecnológico, e dos efeitos colaterais dele derivados.

Água, uso e consumo

Usar água significa que parcela ponderável dela volta ao ambiente original; consumí-la significa que ela se torna indisponível, demora para retornar ao seu ciclo natural, via de regra distante do ponto de consumo. A agricultura é responsável por dois terços do uso e por quase 90% do consumo de água. Em contrapartida, a indústria usa um quarto e consome menos de 5% da água (embora muitas vezes volte poluída ao ambiente). O uso e o consumo de água guardam uma relação logarítmica com a população e a renda per capita mundial. A necessidade de mais alimentos significa um aumento no consumo de água, para as diferentes atividades agrícolas. Nesse cenário, cresce a importância da conscientização sobre dois fatores: desperdício e poluição. O desperdício é representado por uso e/ou consumo excessivo e desregrado da água. Já a poluição é causada pelo desmatamento ciliar, pela falta de proteção nas nascentes, pelo mau manejo de solo, pelo distanciamento dos paradigmas da agricultura sustentável, pelo uso inadequado de agrotóxicos e fertilizantes, pela falta de investimento no tratamento de efluentes, etc. Conservar o recurso água significa eliminar ou reduzir desperdícios e poluição.

Água e Lei

Todo país que se preze tem uma Lei de Águas, que regula o uso e o consumo. Nos países conscientes, ela pune severamente a poluição e o desperdício, e o objetivo sempre é o bem estar social e a preservação de um recurso finito. No Brasil, a Lei 9433 (8/1/97) define a água como um bem de domínio público, um recurso limitado e que possui um valor econômico e social. Trata da concessão da água para uso econômico, cobra pelo uso da água, e prevê pagamento no caso de uso de cursos de água para o lançamento de efluentes (sem abrir mão da preservação, de conformidade com o CONAMA). O que a sociedade espera é o estrito cumprimento da lei pelos agentes econômicos e pelo poder público, reduzindo o desperdício, eliminando a poluição, preservando um bem escasso e garantindo um recurso estratégico para o país, a herança social dos nossos filhos.

*O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e Diretor Técnico da FAEA-PR.

Homepage: http://www.sercomtel.com.br/ice/agro

A farra dos sacos plásticos

A farra dos sacos plásticos

Por: André Trigueiro*

Modelo criado pela Goóc para a campanha da prefeitura de
São Paulo “eu não sou de plástico”, visando incentivar a redução
do uso de sacolas plásticas

Os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções

O Brasil é definitivamente o paraíso dos sacos plásticos. Todos os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico. Nossa dependência é tamanha, que quando ele não está disponível, costumamos reagir com reclamações indignadas.

Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico. Outro dia fui comprar lâminas de barbear numa farmácia e me deparei com uma situação curiosa. A caixinha com as lâminas cabia perfeitamente na minha pochete. Meu plano era levar para casa assim mesmo. Mas num gesto automático, a funcionária registrou a compra e enfiou rapidamente a mísera caixinha num saco onde caberiam seguramente outras dez. Pelas razões que explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem.

A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico em 1862. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções. Feitos de resina sintética originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural.

No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme, que já representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água - retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis - e dificultam a compactação dos detritos.

Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, já justificou mudanças importantes na legislação - e na cultura - de vários países europeus. Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar à sacolamania. Quem não anda com sua própria sacola a tiracolo para levar as compras é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. O preço é salgado: o equivalente a sessenta centavos a unidade.

A guerra contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que obriga os produtores e distribuidores de embalagens a aceitar de volta e a reciclar seus produtos após o uso. E o que fizeram os empresários? Repassaram imediatamente os custos para o consumidor. Além de anti-ecológico, ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha.

Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de libra irlandesa por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de irlandeses indo às compras com suas próprias sacolas de pano, de palha, e mochilas. Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis. Até dezembro deste ano, pelo menos 2/3 de todos os saquinhos usados na rede serão feitos de um material que, segundo testes em laboratório, se decompõe dezoito meses depois de descartados. Com um detalhe interessante: se por acaso não houver contato com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimento para microorganismos encontrados na natureza.

Não há desculpas para nós brasileiros não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. O país que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente) e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do planeta, ainda não acordou para o problema do descarte de embalagens em geral, e dos sacos plásticos em particular.

A única iniciativa de regulamentar o que hoje acontece de forma aleatória e caótica, foi rechaçada pelo Congresso na legislatura passada. O então deputado Emerson Kapaz foi o relator da comissão criada para elaborar a "Política Nacional de Resíduos Sólidos". Entre outros objetivos, o projeto apresentava propostas para a destinação inteligente dos resíduos, a redução do volume de lixo no Brasil, e definia regras claras para que produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos resíduos que descartam na natureza, assumindo o ônus pela coleta e processamento de materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida.

O projeto elaborado pela comissão não chegou a ser votado. Não se sabe quando será. Sabe-se apenas que não está na pauta do Congresso. Omissão grave dos nossos parlamentares que não pode ser atribuída ao mero esquecimento. Há um lobby poderoso no Congresso trabalhando no sentido de esvaziar esse conjunto de propostas que atinge determinados setores da indústria e do comércio.

É preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra a ausência de uma legislação específica para a gestão dos resíduos sólidos. Há muitos interesses em jogo. Qual é o seu?

*André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro "Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação" (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro "Meio Ambiente no século XXI", (Editora Sextante, 2003).

Tabela Periódica

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Ilustração de seres pluricelulares